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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Imprensa: vilã ou vítima das tragédias

Quem não se lembra do resgate dos mineiros chilenos, presos na mina em San José, ocorrido em outubro de 2010. O mundo parou muitos se angustiaram com o sensacionalismo mostrado pelas mídias, as quais exibiam há todos instantes, momentos do trabalho que estava sendo realizado para salvar a vida daqueles homens. Por um lado a importância da divulgação maçante foi fundamental para que o resgate fosse uma verdadeira emoção. Tevês e jornalistas do mundo inteiro fixaram seus noticiários no episódio mais visto naquela data. Depois disso o próprio presidente do Chile Sebastian Piñera afirmou que os mineiros e nem o Chile seriam o mesmo.
Para muitos a mídia exagerou. Enquanto a imprensa brigava pela melhor cobertura jornalística e imagens que mostrassem a dor daquelas pessoas, parentes e amigos dos mineiros soterrados se desesperavam com o terrível acidente. Acredito que os profissionais da imprensa, que fizeram aquelas reportagens abordando o que estava acontecendo, não foi somente para chamar a atenção do público ou vender jornais, mas sim para mostrar o salvamento daqueles trabalhadores com riqueza de detalhes e solidariedade que mudaram a vida de um País.
Na vida real existem dramas que são causados pelas próprias circunstâncias. Mas no que se referem à imprensa marrom, muitos dramas, são criados para atrair públicos, vender jornais ou interesse próprio de promoção.
No filme “As montanhas dos sete abutres”, feito na década de 1950, um jornalista faz da tragédia de um homem soterrado, uma tentativa de promoção pessoal para levá-lo de volta ao meio jornalístico com destaque.
Nada comparado com a atuação dos jornalistas no resgate dos mineiros. No filme, o ator Kirk Douglas, era um repórter com sede de se destacar a nível mundial como o melhor. Depois de ter passado por diversos órgãos de comunicação e não ter tido sucesso, ele vai até uma redação de um jornal numa pequena cidade para tentar fazer uma grande reportagem e ser reconhecido novamente.

Ele precisava de algo novo para um verdadeiro furo de reportagem, dizia no filme que até morderia um cachorro para escrever uma reportagem. Não é diferente nos dias de hoje. Alguns jornalistas se submetem a fazer qualquer coisa para terem destaque e dizem que tirariam até leite de pedras para escrever uma grande matéria.
Charles Tatum, nome fictício do ator Kirk Douglas no filme, é um jornalista que pensou apenas em atrair o público, com um único interesse, se promover. Mas ele não sabia que sua “luta” para salvar o homem soterrado, iria ser o seu fim. Ele faz de uma tragédia um verdadeiro circo, finge que está fazendo de tudo para salvar um homem e ganhar tempo para articular sua volta ao meio jornalístico
No mundo em que vivemos, cheio de tragédias e desastres, as pessoas estão acostumadas a ver na imprensa muitos casos com final triste e outros emocionantes. As pautas são feitas pelo dia-a-dia dos seres humanos, e às vezes são eles que criam as próprias notícias, sendo personagens de tanto destaque. A mídia sempre corre atrás de fatos para mostrar a população um trabalho com responsabilidade e sério para mostrar resultados positivos. Mas acredito que nos dias de hoje muitos jornalistas agem como ator do filme, e que denigrem a imagem do bom jornalista, que trabalha em busca de fatos verdadeiros para um final feliz. 

 (A Montanha dos sete Abutres  se tornou um clássico sobre ética no jornalismo. O jornalista ou estudante de jornalismo que ainda não assistiu  deve correr para assistir, pois o filme dá uma boa aula)


Amparim Lakatos

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