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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

À espera de casas, crianças enfrentam frio como podem em favelas de Campo Grande


Jucyllene Castilho
 

Pelo menos 30 famílias que moram em barracos na Favela Cidade de Deus, na região sudoeste de Campo Grande, enfrentam o frio e a fome enquanto alimentam a esperança de ganhar um imóvel para abrigar os filhos. Na região há diversas casas populares sendo construídas, porém inacabadas.A entrega deve ser feita no próximo dia 26 de agosto, aniversário da capital sul-mato-grossense. Enquanto aguardam a data festiva, as famílias não sabem ao certo se estão entre as beneficiadas, e enfrentam o tempo chuvoso e de frio intenso. "O tempo está judiando da gente, principalmente à noite. O frio e o vento não esperam a inauguração", constatam.O casal Luzinete Flores, 35 anos, e Mariano Mendonça, 52 anos, mora no local, que fica próximo ao lixão há 
quase dois anos. “Tínhamos um barraco mais pra cima, mas como começaram a  construir por lá, tivemos que nos mudar para cá. Faz uns quatro meses que estamos mais perto do lixo”, conta.  
                                                                                                                            
           Amparim Lakatos
Os dois são catadores de produtos recicláveis e têm cinco filhos em comum, com idades de 17, 13, nove, sete e três anos. “A gente se conheceu em Corumbá e há oito anos viemos para Campo Grande porque havia uma promessa de vida melhor. Temos esperança de que o ‘tempo melhor’ chegou, porque estamos ansiosos por ganhar a nossa casa”, fala Mariano. 
Em uma peça de três por três metros, os cinco fazem malabarismo para dormir, cozinhar e guardar o pouco que tem. “Precisamos de tudo, roupas, calçados, alimentos, colchão e móveis. É triste ter que dormir no chão, mas a gente faz o que pode para sobreviver”, relata emocionada Luzinete.
A mesma situação é vivida pelo casal Débora Campos, 17 anos, e Joel Dias, 19 anos, que tem dois filhos, sendo de dois anos e quatro meses. “Estamos aqui há dois anos, vivemos do lixão e de esperança. A gente não passa fome, mas precisamos de roupa, colchão e lona são essenciais. A noite é muito frio dentro de casa (aponta para o barraco) e as crianças são as que mais sofrem”, lembra a jovem mãe.
A adolescente explica que o filho caçula está internado há três dias e ainda não tem previsão de alta. “Este lixão queima o dia todo, sem cessar. E o médico disse que foi esta fumaça que intoxicou meu filho. Ele está com uma infecção, sendo medicado. Quando o levei ao posto de saúde, ele estava todo molinho. Fiquei desesperada quando vi ele daquele jeito, mas quando receber alta médica, ele vai voltar pra cá. Não tem como fugir daqui, a gente não tem pra onde ir”.
O reciclador, Aparecido da Silva, 38 anos, também passa pela mesma situação. “Trabalho aqui (no lixão) e minha esposa é diarista. Tenho quatro filhos de 13, 10, sete e três, e a gente também precisa de tudo. O pouco que temos dividimos entre nós e com os vizinhos, pois aqui a gente se ajuda, já que ninguém que olha pela gente”.
Pelo bairro é possível ver caminhões carregados com sacos de lixo, rastro de pobreza e de esperança de família que sonham em ter a casa própria, que está tão perto e tão distante ao mesmo tempo. Crianças aprendem a brincar com o lixo logo cedo, por falta de brinquedos.
A equipe do Midiamax flagrou meninos envolta de uma fogueira, feita por eles para se aquecer. O fogo feito era aproveitado para queimar fios de cofre, que são vendidos por quilo após limpos. O fogo azul chama a atenção, mas espalha uma grossa fumaça preta, aspirada pelas crianças, sem noção do perigo.
Serviço: Quem tiver o interesse de fazer uma doação para as famílias entrevistadas pode entrar em contato com eles, pelos telefones: 9140-5570 (Luzinete), 9117-1835 (Débora) e 9202-5789 (Aparecido).

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