Pelo menos 30 famílias que moram em
barracos na Favela Cidade de Deus, na região sudoeste de Campo Grande,
enfrentam o frio e a fome enquanto alimentam a esperança de ganhar um imóvel para abrigar os filhos.
Na região há diversas casas populares sendo construídas, porém inacabadas.A entrega deve ser feita no próximo
dia 26 de agosto, aniversário da capital sul-mato-grossense. Enquanto
aguardam a data festiva, as famílias não sabem ao certo se estão entre as
beneficiadas, e enfrentam o tempo chuvoso e de frio intenso. "O tempo
está judiando da gente, principalmente à noite. O frio e o vento não
esperam a inauguração", constatam.O casal Luzinete Flores, 35 anos, e
Mariano Mendonça, 52 anos, mora no local, que fica próximo ao lixão há
quase dois anos. “Tínhamos um barraco mais pra cima, mas como começaram a construir por lá, tivemos que nos mudar para cá. Faz uns quatro meses que
estamos mais perto do lixo”, conta.
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Amparim Lakatos |
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Os dois são catadores de produtos
recicláveis e têm cinco filhos em comum, com idades de 17, 13, nove, sete e
três anos. “A gente se conheceu em Corumbá e há oito anos viemos para Campo
Grande porque havia uma promessa de vida melhor. Temos esperança de que o
‘tempo melhor’ chegou, porque estamos ansiosos por ganhar a nossa casa”,
fala Mariano.
Em uma peça de três por três
metros, os cinco fazem malabarismo para dormir, cozinhar e guardar o pouco
que tem. “Precisamos de tudo, roupas, calçados, alimentos, colchão e
móveis. É triste ter que dormir no chão, mas a gente faz o que pode para
sobreviver”, relata emocionada Luzinete.
A mesma situação é vivida pelo
casal Débora Campos, 17 anos, e Joel Dias, 19 anos, que tem dois filhos,
sendo de dois anos e quatro meses. “Estamos aqui há dois anos, vivemos do
lixão e de esperança. A gente não passa fome, mas precisamos de roupa,
colchão e lona são essenciais. A noite é muito frio dentro de casa (aponta
para o barraco) e as crianças são as que mais sofrem”, lembra a jovem mãe.
A adolescente explica que o filho
caçula está internado há três dias e ainda não tem previsão de alta. “Este
lixão queima o dia todo, sem cessar. E o médico disse que foi esta fumaça
que intoxicou meu filho. Ele está com uma infecção, sendo medicado. Quando
o levei ao posto de saúde, ele estava todo molinho. Fiquei
desesperada quando vi ele daquele jeito, mas quando receber alta
médica, ele vai voltar pra cá. Não tem como fugir daqui, a gente não tem
pra onde ir”.
O reciclador, Aparecido da Silva,
38 anos, também passa pela mesma situação. “Trabalho aqui (no lixão) e
minha esposa
é diarista. Tenho quatro filhos de 13, 10, sete e três, e a gente também
precisa de tudo. O pouco que temos dividimos entre nós e com os vizinhos,
pois aqui a gente se ajuda, já que ninguém que olha pela gente”.
Pelo bairro é possível ver
caminhões carregados com sacos de lixo, rastro de pobreza e de esperança de
família que sonham em ter a casa própria, que está tão perto e tão distante
ao mesmo tempo. Crianças aprendem a brincar com o lixo logo cedo, por falta
de brinquedos.
A equipe do Midiamax flagrou
meninos envolta de uma fogueira, feita por eles para se aquecer. O fogo
feito era aproveitado para queimar fios de cofre, que são vendidos por
quilo após limpos. O fogo azul chama a atenção, mas espalha uma grossa
fumaça preta, aspirada pelas crianças, sem noção do perigo.
Serviço: Quem tiver o interesse de fazer uma doação para as famílias entrevistadas
pode entrar em contato com eles, pelos telefones: 9140-5570 (Luzinete),
9117-1835 (Débora) e 9202-5789 (Aparecido).
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